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O QUE LEVA A PLURALIDADE A SER OBJETO DE CRISES E RUPTURAS POLÍTICAS: reflexões e compreensões no pensamento de Hannah Arendt

O QUE LEVA A PLURALIDADE A SER OBJETO DE CRISES E RUPTURAS POLÍTICAS: reflexões e compreensões no pensamento de Hannah Arendt

Por Antonio Arruda, Doutorando em Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito – UFPE e Docente da Faculdade Conceito Educacional – FACCON.

Em agosto de 1950, Hannah Arendt foi estimulada pelo seu editor Klaus Piper, para escrever o livro “Introdução à Política”. Como bem sabemos, a publicação do livro não ocorreu, mas os fragmentos dos seus escritos foram transformados em um projeto. Este foi compilado e organizado por Ursula Ludz e tem como título: Was ist Politik?, ou seja, “O que é Política?” (1993). O título da presente obra é fruto do primeiro fragmento contido no livro mencionado: “o que é Política?”.

Nesse sentido, Arendt questiona-se de forma subjetiva (ou seja, uma inquietação pessoal sobre a compreensão da política) e de forma coletiva/objetiva (para inquietar o seu leitor e aos membros políticos da comunidade em razão do tema). Estes pontos situam-se na preocupação da autora em estabelecer um elemento pedagógico, para o ensino da temática e um elemento metodológico, para  estruturar a sua escrita baseada no seu problema de pesquisa. Com o questionamento do título do livro, tem-se como resposta às duas regras essenciais para a Política: “a política baseia-se na pluralidade dos homens” ou ainda, “a política trata da convivência entre os diferentes” (ARENDT, 2017, p. 21).

No decorrer da discussão buscamos a compreensão da relação pluralidade e crise política, com um questionamento secundário: “o que leva a pluralidade ser objeto de crises e rupturas políticas?” Como resposta subjetiva, tem-se um voltar desta autoria às regras da Política: o conviver entre os diferentes pela pluralidade. Parece-nos que essas duas regras inquietam os homens e mulheres de forma negativa, para romperem com a sua comunidade plural. Neste caso, temos os exemplos indicados por Arendt em seus escritos: crise do Estado-Nação, Totalitarismos ou ainda as crises da Educação ou na Cultura. Deste modo, recordamos o que o Professor Eduardo Jardim indica Arendt como a pensadora da crise, mas como a pensadora dos inícios. Espera-se como resultado discursivo a manutenção da pluralidade presente no pensamento de Arendt, como um remédio para evitar a solidão política. Embora, a pluralidade seja fruto de rupturas, mas Arendt indica a possibilidade de novos inícios pelo que ela denominou de: “atividades verdadeiramente políticas”, que são o “agir” e o “falar”.

No contínuo discursivo, tem-se o objetivo discursivo que é a compreensão do contexto dos dois termos crise e pluralidade, no pensamento de Hannah Arendt. Em seu percurso de referências conceituais, a autora discute em vários momentos sobre estes temas mencionados. O centro dessa discussão é a política, que nasce fruto de uma crise ou da pluralidade. Por essa razão, temos dois questionamentos, que nos auxiliam em nossa discussão: quais são as crises apresentadas por Arendt em sua discussão? Qual o sentido da pluralidade para a política?

Para responder o primeiro questionamento, precisamos retomar a introdução do livro “Entre o Passado e o Futuro” (1961), pois, desse, surge a temporalidade ou tempo das crises, os quais Arendt analisa em conjunto com a política. Visto que Arendt (2014) recorreu ao argumento sobre o tempo para a política, tanto de René Char, com a herança não precedida e a Kafka sobre os dois adversários. Na introdução do livro mencionado, a autora escolheu como companheiro de “viagem” o próprio Kafka, o qual o indivíduo consegue “romper” o contínuo do tempo (ARENDT, 2014). Desse modo, Arendt indica o responsável pela ruptura do tempo na política ou pelas crises desta: tem-se a nossa hipótese de que o homem atomizado, como aquele que aparece no espaço público.

Pois, “do ponto de vista do homem, que vive sempre no intervalo entre o passado e o futuro, o tempo não é um contínuo, um fluxo de ininterrupta sucessão; é partido ao meio no ponto onde “ele” está […]” (ARENDT, 2014, p. 37). Infere-se da citação três momentos discursivos: (1) o tempo, (2) a imagem das rupturas e (3) a localização do homem, enquanto aquele que age. Esses momentos discursivos são importantes para que o homem, em comunidade, desempenhe as atividades políticas da natalidade da vita activa e da vita contemplativa. Contudo, está na forma ou no modo que esse homem se utiliza de suas atividades políticas, onde pode ocorrer o desvirtuamento da ruptura temporal, e, por isso, citamos como exemplos dessa ruptura: a “Crise do Estado-Nação” e o “Totalitarismo”. Posto isso, somamos a esses a crise na educação e na cultura.

Os termos citados demonstram uma importância conceitual para a autora, para uma análise sobre as  atividades da vida política, além da própria política. Desse modo, a política é o tema central do pensamento de Hannah Arendt. Pois, em seu decurso de pensamento, os elementos conceituais que a autora apresenta tem, em seu centro, a política. Essa é questionada nos escritos iniciais da autora, por isso, nos fragmentos de 1950, lemos a preocupação da autora em indicar um caminho metodológico para o tema. Portanto, temos a inquietação e parafraseando a autora: “O que é política”, para o hoje? (ARENDT, 2017).

Observação: A presente temática foi apresentada no XIV Encontro Internacional Hannah Arendt. O texto completo será publicado na Revista Ponto de Vista.

 

Referências

ARENDT, Hannah. O que é Política? Tradução de Reinaldo Guarany. 12. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2017.

ARENDT, Hannah. Entre o Passado e o Futuro. Tradução de Mauro W. Barbosa. São Paulo: Perspectiva, 2014.